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Tecnologia, presença e desenvolvimento infantil: para onde estamos olhando?

Em um mundo cada vez mais atravessado por telas e inteligências artificiais, é fundamental lembrar que não somos máquinas: somos seres vivos, sensíveis e profundamente relacionais. Desde o nascimento, o bebê depende da presença física, afetiva e temporal do cuidador para se desenvolver. Alimentação e higiene são importantes, mas não bastam sem um vínculo atento, sensível e sintonizado.

Pesquisas como as de Feldman, Trevarthen e Aitken mostram que as trocas iniciais — o olhar que responde, a vocalização, a imitação e a regulação afetiva — constroem as bases da empatia, da linguagem, da autorregulação e das competências socioemocionais. Esse processo depende da chamada atenção conjunta, quando adulto e criança compartilham o foco e constroem juntos uma entrada no mundo de forma segura e estruturada.

Contudo, o uso constante de smartphones pelos cuidadores tem transformado essas

interações. Estudos recentes indicam que interrupções frequentes no contato olho no olho geram sentimentos de tristeza, frustração e menor percepção de acolhimento por parte das crianças. Quando os adultos estão cronicamente divididos entre a criança e a tela, perde-se algo essencial: perde-se linguagem, perde-se mundo, perde-se encontro.

Por isso, discutir o uso de telas na infância não pode se limitar aos efeitos físicos ou à saúde mental isoladamente. É um tema que exige olhar para as relações: como estamos nos conectando com as crianças? Como as tecnologias têm participado — ou atrapalhado — esses encontros?

O debate não precisa ser binário (“telas são boas” ou “telas são ruins”), mas contextualizado. O foco precisa estar em como o uso das telas atravessa as relações com as crianças e adolescente, e principalmente em como nós, adultos, estamos presentes — ou ausentes — na construção dessas relações.


Conselho Federal de Psicologia (CFP). “A Psicologia frente ao mundo digital”.

 
 
 

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